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Contextualizando o ensino da gramática por meio da arte



Posicionamentos diversos se manifestam quando o assunto se refere à concepção que se tem acerca do ensino da gramática. Nesse sentido, cabe ressaltar que tal diversidade muitas vezes se demarca muito mais por aspectos de ordem negativa que positiva. Assim, dizeres parecem se misturar, nos quais a predominância pende para algo mais ou menos do tipo: “estudar gramática é muito chato”; “aprender aquelas regras é insuportável”; “detesto Português”, e assim por diante. Mudanças nesse quadro são necessárias, sobretudo pela importância de fazermos bom uso da língua que falamos, valorizando-a em todos os seus aspectos.


Propor metodologias distintas, no sentido de buscar meios mais eficazes de fazer com que o ensino se concretize, é, por excelência, uma das incumbências atribuídas a todo educador. Quanto ao ensino da gramática, a situação não é diferente. Por mais que se fale em “contextualização”, exercícios e mais exercícios de fixação são cobrados de forma recorrente no ambiente de sala de aula; de maneira descontextualizada, obviamente.

Procurando, pois, inverter esse cenário, por meio dos textos “O ensino da sintaxe” e “Compreendendo as flexões verbais”, compartilhamos um discurso que retrata os pontos benéficos obtidos a partir de metodologias diferenciadas de ensino, cujo intuito é tão somente fazer com que determinados estigmas sejam senão banidos, ao menos amenizados, tornando o aprendizado algo prazeroso, não algo concebido de forma imposta. Como uma espécie de complementação, o discurso que aqui se evidencia não pende por outros rumores, ao contrário, elucida atividades sugestivas que porventura possam contribuir para o intento em questão.

Buscar nas artes, sobretudo na música e na Literatura, artifícios para o ensino dos postulados gramaticais parece “fugir” do convencionalismo e se revelar como algo instigante, despertando, assim, a busca por novas aprendizagens.

A começar por uma letra musical, intitulada “Máscara”, da cantora Pitty, cujos fragmentos assim se evidenciam:

Diga, quem você é me diga
Me fale sobre a sua estrada
Me conte sobre a sua vida
Tira, a máscara que cobre o seu rosto
Se mostre e eu descubro se eu gosto
Do seu verdadeiro jeito de ser
[...]

Diga quem você é, me diga
Me fale sobre a sua estrada
Me conte sobre a sua vida
E o importante é ser você
[...]

Após ouvi-la, o primeiro passo é fazer com que os alunos se familiarizem com a letra da canção. Na sequência, alguns pontos podem ser abordados, tais como aqueles voltados para o uso de pronome átono no início de orações, especialmente demarcados por: Me fale sobre a sua estrada/ Me conte sobre a sua vida”.

Outro ponto demarca-se por meio do uso da próclise logo após a presença da vírgula, como no primeiro verso Diga quem você é, me diga”.
Realizado tal procedimento, eis o momento oportuno de o educador levantar a seguinte questão: Como ficariam tais colocações uma vez adequadas ao padrão formal da linguagem? Assim, mais importante do que indagar é colocar realmente em prática. Veja:

Fale-me sobre a sua estrada
Conte-me sobre a sua vida

Diga quem você é, diga-me
[...]


Certamente que os posicionamentos firmados pelos aprendizes serão norteados pelo fato de que, em termos estéticos, especialmente em se tratando dos aspectos sonoros, o uso da ênclise, em vez da próclise, não se tonaria adequado ao contexto, tendo em vista a finalidade proferida por tal arte, que no caso é a música. Aproveitando o ensejo, é interessante ressaltar um fator: a chamada licença poética, cuja característica se define pela liberdade da qual faz uso o artista para expressar sua criatividade sem se sentir preso às normas gramaticais. Dada essa razão, ele pode obter de modo mais contundente o efeito desejado ao elaborar um determinado discurso.


Dando vazão à proposta metodológica, outras opções revelam sua pertinência, como é o caso de:


Malandragem
, de Cássia Eller

Quem sabe eu ainda
Souuma garotinha (grifos nossos)
Contrariando os postulados gramaticais, evidencia-se a falta da correlação verbal, demarcada pelo uso indevido da forma verbal “sou”, em vez de “seja”.
No meio do caminho, de Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra 
tinhauma pedra no meio do caminho 
tinhauma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra. 
Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinhauma pedra 
tinhauma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra
(grifos nossos) 
O pressuposto se deve ao fato de o verbo “ter” ser empregado no lugar do verbo “haver”.
Eu sei que vou te amar, de Tom Jobim 
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
[...] 
  (grifos nossos)
Em tal circunstância, o que se pode atestar é o fato de que em se tratando de uma locução verbal, sobretudo demarcada por um fator de próclise (que), o pronome oblíquo deveria vir antes do verbo auxiliar, não depois dele, ou seja, “eu sei que te vou amar”.

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras 
Fonte: R7

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